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domingo, 27 de abril de 2008

OS QUE FICAM!

O que quer a mídia no caso Isabella?

Teria a pretensão de descobrir, por meio de tocaia aos membros da família, algum fato extraordinário que revele o autor do crime, antecipando-se aos peritos?

É fato que o público tem uma curiosidade mórbida insaciável, para a qual os psicanalistas têm lá suas explicações. Será que as TVs assumem, para si mesmas, que estão apenas tentando atender a esse desejo do público, ou acreditam que tudo o que fazem é verdadeiramente jornalismo?

A cobertura tem momentos de sobriedade e equilíbrio, mas também tem momentos de desatino. Alguns são até corriqueiros, usuais: a menos que haja algo de excepcional na informação, qual o sentido de informar o que Ana Carolina Jatobá jantou em sua primeira noite na carceragem? Esse tipo de relato já foi incorporado ao noticiário policial, mesmo que não traga nada de relevante.

Mas isso não tem importância, não ofende nem desrespeita ninguém. Já as descrições minuciosas dos ferimentos no corpo da menina precisam, mesmo, ser feitas na TV e no jornal? Elas são importantes para a investigação, mas são relevantes para o público? Fiquei horrorizada com as ilustrações mostrando “manchas roxas aqui, sangue aqui”, como se não estivessem falando de uma criança que morreu, que deixou parentes e amigos, mas de um diagrama, um esquema, um rabisco apenas. Na corrida algo exibicionista para ver quem tem as informações mais detalhadas, o melhor acesso ao caso, ninguém quer deixar de publicar nada.

Seja lá quem for que matou Isabella (santo Deus, quem teria sido capaz?), uma família inteira sofreu o inimaginável. Nós a vimos em fotos e vídeos, doce e encantadora, e ficamos horrorizados com o modo como sua vida chegou ao fim; imaginem como se sentem tios, primos, avós. E agora vivem todos acuados, perseguidos, com alguém sempre a postos para descrever quem entrou ou saiu da casa dos parentes, a que horas, carregando o quê.

Fico muito preocupada com os filhos de Ana Carolina, especialmente o mais velho, que já tem capacidade para entender o que está acontecendo (tanto quanto isso é possível). A irmãzinha morreu; a mãe foi presa e o pai também; a TV não fala de outra coisa. Quando a gente tem uma morte na família, seguindo a ordem “normal” das coisas (em que os mais velhos morrem primeiro...), já é difícil lidar com o vazio, a ausência. Que ele e o irmão menor tenham muito apoio, muita retaguarda para terem uma vida feliz.

O que mais dói mesmo é saber que sua mãe todos os dias acorda e tem que suportar a IMPOSSIBILIDADE de ter sua princesa de volta.

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